PÓLEN DE KIWI
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Jorge Canhoto
Centro de Ecologia Funcional, Departamento de Ciências da Vida, Universidade de Coimbra
PÓLEN DE KIWI
Os grãos de pólen são os gametófitos masculinos das espermatótifas,
onde se incluem as angiospérmicas e as gimnospérmicas. Tal como a designação
“gametófito” sugere, trata-se das estruturas onde se formam os gâmetas masculinos,
que vão fecundar a parte feminina da flor iniciando a fecundação e o ulterior
desenvolvimento embrionário e do fruto. Embora existam espécies capazes de
formar frutos sem que ocorra fecundação (e.g., bananeiras, alguns citrinos), os
chamados frutos partenocárpicos, o desenvolvimento do fruto é normalmente
iniciado com a fecundação daí que o pólen seja muito importante em termos de
produção fruteira.
O kiwi - Actinidia deliciosa (A.Chev.) C.F.Liang & A.R.Ferguson é uma
espécie dióica, existindo plantas masculinas e plantas femininas. Nas
primeiras, as flores, embora possuindo os rudimentos da parte feminina
(gineceu), possuem um grande número de anteras onde se forma pólen. As
femininas, possuindo também anteras rudimentares, produzem pólen que não é
viável, não sendo por isso eficaz em termos de polinização.
Assim, os produtores de kiwi, para
assegurarem a formação do fruto, têm que ter nos pomares árvores masculinas
dadoras do pólen para que a fecundação possa ocorrer. Em alternativa, podem
adquirir pólen às empresas que o comercializam, e proceder a polinizações
artificiais, utilizando diversas metodologias de dispersão do pólen.
Tendo em conta a importância que o pólen
assume na produção do kiwi, é importante saber como ele se comporta, como se pode
conservar e qual a sua eficácia em termos de polinização. Deve ainda
referir-se, que em muitas espécies, os grãos de pólen podem também ser
utilizados para produzir plantas, um processo conhecido como androgénese ou
embriogénese polínica. Como as células dos grãos de pólen apenas possuem metade
do número de cromossomas das células do corpo da planta, elas irão formar uma
planta que também possui apenas metade do número de cromossomas típico da
espécie. Estas plantas, chamadas haplóides, são muito interessantes, pois a
duplicação do número de cromossomas permite obter aquilo a que se vulgarizou
chamar duplo-haplóides, ou seja plantas totalmente homozigóticas (linhas puras)
muito importantes para obter híbridos com novas características.
No âmbito do Grupo Operacional I9Kiwi, o
Laboratório de Biotecnologia de Plantas do Centro de Ecologia Funcional da
Universidade de Coimbra, em colaboração com viveiristas, tem desenvolvido
vários tipos de ensaios com vista à caracterização do pólen do kiwi no que diz
respeito à sua capacidade germinativa.
Esses ensaios são normalmente realizados
em condições laboratoriais, podendo também ser feitos ensaios in situ, no campo. Estes ensaios têm
como objetivo determinar se o pólen que vai ser utilizado nas polinizações é
viável e se apresenta boa capacidade germinativa.
Quando se trata de pólen adquirido a uma
empresa, os grãos de pólen desidratados (Fig. 1A-B) são colocados em caixas de
Petri ou outro recipiente de cultura contendo um meio simples que permite a
germinação dos grãos de pólen. Esse meio pode ser líquido ou gelificado,
normalmente pela adição de agar (1%). Para além de alguns componentes minerais
como cálcio, azoto e ácido bórico, o meio deve ter ainda uma fonte de carbono,
sendo vulgar a utilização de sacarose em concentrações elevadas (9% ou mais).
Uma vez colocados no meio de cultura, os grãos de pólen germinam, ou seja,
emitem um prolongamento de uma das suas células chamado tubo polínico (Fig.
1C).
A função do tubo polínico não é mais do
que transportar os dois gâmetas masculinos até ao saco embrionário situado no
interior do óvulo de uma flor feminina para que ocorra a fecundação. Quando se
trata de pólen recolhido no campo, as anteras devem ser separadas das outras
peças florais numa altura em que a sua abertura está próxima.
Uma vez abertas, as anteras libertam o
pólen, devendo este ser separado dos restantes tecidos da antera, desidratado e
colocado no frio até à sua utilização. No caso da aplicação não ser imediata, o
pólen deve ser guardado a -20 ºC. A qualidade do pólen é determinada em função
da percentagem de germinação. Este método é muito simples e tem uma grande
fiabilidade, pois de os grãos de pólen germinam é porque estão viáveis.
Percentagens de germinação acima de 95% significam que o pólen é de qualidade.
Existem métodos mais simples de
determinação da viabilidade do pólen, baseados na utilização de corantes e
observação ao microscópio. Se um microscópio com sistema de fluorescência
estiver disponível podem também utilizar-se fluorocromos para determinar a
viabilidade através da emissão de fluorescência. Um corante muito utilizado é o
azul de Evans. Quando este corante é aplicado ao pólen em solução, os grãos de
pólen viáveis não coram enquanto os grãos de pólen mortos coram de azul (Fig.
1D). A viabilidade determina-se também em percentagem, contando o número de
grãos viáveis (não corados) em relação ao número total de grãos analisados e
multiplicando por 100. Comparado com o método de cultura, este é menos fiável
pois pode dar falsos negativos ou positivos. No entanto, para uma primeira
abordagem, é um método muito expedito e fácil de realizar, evitando a cultura
in vitro e o tempo de crescimento dos tubos polínicos.
Os ensaios que temos realizado com pólen
proveniente de diferentes pomares mostra que a sua capacidade germinativa é
equivalente à do pólen adquirido a empresas. Os dados mostram também que o
pólen pode ser mantido por vários anos (3 foram os anos já testados), a -20 ºC
sem uma perda considerável de viabilidade, que se mantém à volta dos 90%.
Importa referir que em
vários países existem empresas que se dedicam à produção de pólen e que este
negócio é bastante rentável, dado o elevado preço que o pólen atinge nos
mercados.