HALYOMORPHA HALYS – ALERTA GLOBAL KIWI
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Luís Reis
Esp
HALYOMORPHA HALYS – ALERTA GLOBAL KIWI
A fileira mundial do kiwi está a acompanhar com muita atenção a dispersão e impacto de uma nova praga, o Halyomorpha halys. Na última reunião da IKO (International Kiwifruit Organization), que a APK acolheu em Portugal, em Setembro, este assunto mereceu grande interesse no painel dedicado à fitossanidade, destacando-se os relatos da delegação italiana, com a descrição de prejuízos significativos em algumas regiões de Itália e a preocupação dos neozelandeses que o consideram uma potencial ameaça ao setor do kiwi na Nova Zelândia (ao ponto de ter fotos do inseto na zona das chegadas no aeroporto da capital do país).
Este inseto é originário da Ásia (China, Japão e Coreia) e tem-se espalhado pelo mundo, estando já presente na América do Norte, na Europa e, desde o ano passado, na América do Sul (Chile). Foi identificado, pela primeira vez, nos Estados Unidos, em 2001, na Pensilvânia (as autoridades locais consideram que existem indícios de que poderia estar presente desde 1996/98). Sem predadores naturais, espalhou-se rapidamente. Desde então foi localizado em 44 estados dos EUA e em 4 províncias do Canadá. Nos EUA, em 2004, eram já observados facilmente em ambiente rural e, em 2010, começaram a causar problemas catastróficos em explorações agrícolas de alguns estados, com casos de perdas totais de produtores de milho, pimentos, tomates, maças e pêssegos.
Na Europa, foi encontrado pela primeira vez em 2004, no Liechtenstein. Posteriormente foram feitas novas deteções: Suíça (2007), Alemanha e Grécia (2011), Itália e França (2012), Hungria (2013), Roménia e Rússia (2014), Áustria e Sérvia (2015), Espanha, Eslováquia e Geórgia (2016). Em Espanha, o primeiro registo do inseto foi feito a partir de um exemplar capturado no campus da Universidade de Girona (Catalunha), não existindo ainda (pela informação que temos disponível) registo de prejuízos. Em Portugal, as autoridades oficiais ainda não registaram nenhum caso.
Este inseto pertencente à família Pentotomidae da ordem Hemiptera. Existem várias espécies parecidas (lembra, em termos de formato, o Nezara virudula, o percevejo-fedorento, o bicho verde mal cheiroso que todos conhecemos de encontrarmos em quintais, pomares ou milharais), contudo têm algumas características distintivas de onde se destacam visualmente: uma cor base castanha com um aspeto marmoreado, bandas brancas nas antenas, patas e abdómen e manchas pretas na parte posterior das asas. Pode ter um cheiro característico (o nome em inglês incluiu a palavra “stink”, malcheiroso).
Em termos de ciclo de vida, passam o inverno num local protegido (pode ser no campo ou mesmo em casas) de onde saem na primavera. Medem cerca de 12 a 17mm. Poderão começar a reproduzir-se duas semanas depois da saída do abrigo de inverno. Durante o seu ciclo de vida cada fêmea pode chegar a depositar mais de 400 ovos, fazendo posturas médias de 25/28 ovos (depositados em conjunto, em que cada ovo medirá cerca de 1mm). Depois de emergir do ovo, esta espécie tem 5 estados de ninfa a que segue o estado adulto. As ninfas têm um aspeto diferente dos adultos, têm uma coloração vermelho-amarelada com riscas pretas.
São muito ativos e capazes de voar a grandes distâncias (1 a 2km por dia). A partir do segundo estado de ninfa já começam a provocar estragos nas culturas.
É um inseto polífago, alimenta-se de uma grande variedade de espécies vegetais, mais de 200 diferentes, das quais o kiwi faz parte. No kiwi, podem alimentar-se dos ramos e folhas jovens e do fruto.
As picadas no fruto são muito pequenas, difíceis de identificar sem recurso a lupa. Provoca estragos no fruto (internamente aparecem pequenas áreas brancas e “esponjosas”) que pode acabar por cair no chão. Os produtores italianos já sofrem com este problema, sobretudo nas regiões norte, onde há produtores que registam prejuízos que podem chegar à perda de 30% da produção. O fruto que é picado mas não cai no pomar, é uma fonte acrescida de preocupação porque poderá ser colhido (é muito difícil de distinguir do fruto não afetado) e originar problemas durante a conservação.
Estão a ser estudadas formas de luta. O uso de fitofármacos não é por si só a solução pela pouca eficácia das substâncias existentes em matar os insetos adultos – até ao momento os ensaios feitos em Itália têm tido uma eficácia abaixo de 60% em insetos adultos. Estão a fazer-se estudos para ver a eficácia do uso de meios de combate biológico, armadilhas (cromotrópicas e feromonas) e com uso de redes.
A APK tem acompanhado o problema, que já tem sido debatido nas últimas reuniões de técnicos que promoveu. Os técnicos do setor estão atentos ao problema. Os produtores, caso encontrem algum inseto suspeito, devem capturá-lo e enviar fotografia para o seu técnico, APK ou para a divisão da fitossanidade da sua Direção Regional. Caso se confirme (há outras espécies parecidas) que possa realmente ser suspeito será necessário o envio do inseto (os serviços oficiais não fazem identificação por fotografia).
Fontes
Stop BMSB - Management of brown marmorated stink bug in US specialty crops (2018). http://www.stopbmsb.org/stink-bug-basics/life-stages/
EPPO Global Database - Halyomorpha halys (HALYHA) (2018). https://gd.eppo.int/taxon/HALYHA/photos
Kiwifruit Vine Health - Brown Marmorated Stink Bug - Halyomorpha halys. http://www.kvh.org.nz/vdb/document/103582
tes:BM