A FENOLOGIA DA FLORAÇÃO DOS POMARES DE KIWI EM PORTUGAL
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FLOWer Lab
Centre for Functional Ecology, Universidade de Coimbra
A FENOLOGIA DA FLORAÇÃO DOS POMARES DE KIWI EM PORTUGAL
O número de flores produzidas, assim como, a sincronização da
floração entre plantas macho e fêmea, são dois fatores de grande importância na
cultura do kiwi uma vez que afetam diretamente a disponibilidade de pólen, e a
quantidade e calibre do fruto produzido. A floração é influenciada por diversos
fatores, entre os quais se destacam as condições climatéricas como fatores
cruciais. Neste contexto, as alterações climáticas que se têm vindo a registar
e que se preveem vir a resultar em eventos extremos no futuro (Loureiro et al.
2017), terão um impacto determinante na fileira do kiwi. O desenvolvimento da
flor do kiwi tem um ciclo de dois anos, com duas fases, a indução floral que
ocorre no mês de junho e o desenvolvimento da flor que ocorre na primavera seguinte.
Consequentemente, as estruturas florais permanecem em dormência durante o
inverno. Por sua vez, a quebra de dormência e o momento e intensidade da
floração são determinadas pelo número de horas de frio acumuladas durante o
período de dormência de inverno, sendo necessárias 600 a 800 horas de
temperaturas abaixo de 7 ºC, entre os meses de dezembro e fevereiro.
Assim,
quanto maior o número de horas de frio mais abundante a floração, ao passo que
temperaturas amenas durante o inverno resultam num atraso na quebra de
dormência e consequente retardar da floração, assim como na produção de um
menor número de flores.
O tempo de vida das
flores femininas da variedade Hayward é de cerca de 7 dias após abertura das
pétalas (González 1996), mas a sua maior recetividade ocorre na segunda metade
da vida da flor. Um estudo recente por Tacconi et al. (2016) mostra uma maior
recetividade, e consequentemente a produção de frutos de maior calibre, em
flores que começam a perder ou já perderam as pétalas. As flores masculinas
produzem pólen viável durante 2-3 dias após a abertura da flor, sendo a
quantidade de pólen dependente da variedade. Variedades como Matua e Tomuri, frequentemente
cultivadas em Portugal, produzem quantidades similares de pólen, com taxas
similares de germinação (González 1994), e diferem fundamentalmente na sua
fenologia.
As diferenças na fenologia em relação às plantas femininas,
tendencialmente precoce no Matua e mais tardia no Tomuri, permitem garantir
disponibilidade de pólen no pomar durante um maior período de tempo.
Os pomares monitorizados incluem quatro variedades
femininas (Hayward, Erica, Earlygreen e Tsechelidis) emparelhadas com uma ou
mais variedades de macho (e.g., Tomuri, Matua, Chieftain).
A contabilização das
flores nos diferentes estados fenológicos permitiu avaliar a sincronização da floração
entre plantas masculinas e femininas, e a replicação das observações em anos
diferentes, permite avaliar o impacto das condições climatéricas nessa
sincronização. Esta contabilização consistiu na contagem do número de botões,
flores abertas, flores sem pétalas, e frutos vingados, quando aplicável, em
vários ramos por planta, em pelo menos 10 plantas de cada variedade do pomar.
Os resultados preliminares mostram diferenças entre os dois
anos monitorizados. Em 2018, a floração foi mais tardia, decorrendo no final de
maio, em consequência de um inverno tardio. Os resultados preliminares sugerem
uma boa sincronização entre a floração de machos e fêmeas assim como uma
relativa homogeneidade na floração. Por outro lado, em 2019, a floração
decorreu na segunda metade de maio, tendo-se atingido as horas mínimas de frio
mais cedo do que em 2018; no entanto, a sincronização entre machos e fêmeas foi
menor, observando-se uma maior variação entre pomares. Ou seja, enquanto em
alguns pomares se atingiu uma boa sincronização na floração de fêmeas e machos,
noutros observou-se um claro adiantamento das fêmeas em relação aos machos ou
vice-versa. Os resultados preliminares de 2019 sugerem também uma quebra na
produção de flores e uma maior heterogeneidade na floração das fêmeas, tendo
sido possível encontrar numa mesma planta, ao mesmo tempo, botões, flores
abertas e frutos vingados, muito provavelmente devido a picos de maiores
temperaturas alternados com dias com temperaturas mais baixas registados
durante a primavera deste ano e variáveis ao longo do território nacional. O
próximo passo consistirá na análise dos resultados obtidos conjuntamente com
parâmetros climáticos dos locais estudados, em particular com a temperatura,
por forma a correlacionar de uma forma mais precisa os eventos abióticos
registados com os padrões fenológicos observados, e assim perceber os efeitos
das condições climáticas na resposta fenológica de cada variedade.
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Coimbra.
Tacconi G,
Michelotti V, Cacioppo O, Vittone G (2016) Kiwifruit pollination: The
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